MEMÓRIAS LITERÁRIAS E AFETIVAS



QUEM SAI AOS SEUS NÃO DEGENERA
 


Família humilde e de pouca instrução, pai e mãe trabalhando a semana inteira.
Domingo, o melhor dia da semana, chegava. Após o almoço, em vez da tradicional soneca da tarde, era a hora de ler.

O ambiente era a sala – nos sofás ou deitados no chão, cada um com sua leitura: minha mãe com suas fotonovelas (o interessante é que eram clássicos, como Ana Karenina, O morro dos ventos uivantes e A cabana do Pai Tomás!), meu pai com seus livrinhos de bang-bang, eu e minhas irmãs com gibis, palavras cruzadas (Picolé) ou livrinhos como os do meu pai, só que de espionagem.

Em noites sem energia elétrica (quando a“força” acabava) meus pais, tios ou avô contavam histórias de assombração que juravam serem verdadeiras; às vezes eram “causos” da infância deles, geralmente engraçados. De vez em quando meu pai declamava poesias que aprendera no seu único ano na escola. Havia também as lendas e parlendas...”Cadê o toicinho que estava aqui?”

Como dizia uma antigo provérbio: "Quem sai aos seus não degenera." De ler a contar histórias, foi um pulo; amava fazer redações na escola.
Assim, entre histórias e poesias - lidas, contadas ou cantadas- fui crescendo e aprendendo a amar a literatura, amor que transmiti às minhas filhas e transmito, ainda hoje, aos meus alunos.

Por Lana S. N. Salgueiro

 



 
A DESCOBERTA DA ESCRITA
 


Fui alfabetizada na primeira série do ensino fundamental, pelo método sintético. Na época, a cartilha utilizada era a Caminho Suave (Branca Alves de Lima).

Essa cartilha propunha a alfabetização por meio da imagem. Desde o início eu adorei, pois achava muito interessante a forma de organização da Caminho Suave. As letras maiúsculas e minúsculas, cursivas e de forma, a formação das sílabas e das palavras. O aprendizado acontecia gradativamente, de maneira tranquila e prazerosa. No final da cartilha as lições ficavam mais complexas, porém muito mais interessantes. Era maravilhoso folhear as páginas e conseguir compreender o que estava escrito.



Embora as questões relacionadas à alfabetização tenham se transformado em assuntos polêmicos entre educadores, acredito que comigo e com muitas outras pessoas o método sintético concluiu com êxito o objetivo a que se propunha.
Por: Lucia Helena de Lima Moreira


COM LEITURA, COM AFETO
 

Quando eu era pequena, por volta dos cinco anos, morava em São Caetano do Sul (Bairro Santa Paula) , com meus pais, - ele brasileiro; ela de família italiana; uma tia, irmã de minha mãe(Antonieta) e minha nona italiana(Agnese), portanto a linguagem lá de casa ficava meio a meio: português e italiano. Nessa época nos mudamos para a Vila Bastos em Santo André.


No primeiro ano, minha professora foi Dona Sebastiana e a alfabetização se deu pela Cartilha Caminho Suave, sem problemas, após o impasse resolvido, com relação ao déficit visual muito grande detectado pela professora e que meus pais não aceitavam, pois eles faziam o teste em casa e achavam que eu enxergava demais, ao passo que a professora dizia eu enxergava de menos; briga vai , briga vem, ela venceu – naquele tempo os professores eram muito ouvidos!

Voltando à alfabetização, depois de sanado o problema da visão, não tive problemas, porém não sei precisar quando, exatamente, foi o “boom”, de minha escrita/leitura, mas foi tranquilo.

Quando ainda estava na Escola Dom José Lázaro Neves, por volta dos 10/11 anos, fiquei sócia da Biblioteca Municipal de Santo André e foi realmente um tempo muito bom de leitura, um tempo de descoberta que se estendeu por alguns bons anos.

Duas professoras foram decisivas em minha escolha para o curso de Letras: primeiro a professora Therezinha Tambeline; eu sempre dizia: “quando crescer quero ser como você”.Ela era o máximo!

Outra que me inspirou foi a excelente professora de Língua Portuguesa e Literatura, Maria Luiza Lera, no Ensino Médio. Eu ficava deslumbrada com suas aulas e a maneira como nos envolvia com os livros, que nos mandava ler, como conduzia a interpretação.

Conforme já contei, os livros e o afeto fizeram parte da minha vida, desde cedo.

Assistindo aos vídeos, nesse curso (Melhor Gestão, Melhor Ensino) , percebi que nos dois primeiros prevaleceu o afeto das professoras, das avós nos cotidianos e no último caso, Clair indica que sempre há tempo para se aprender tudo o que se quer na vida, pois a vida é um constante redescobrir, reaprender.

Para terminar, aproveito as palavras de Contardo Calligaris que, com muita propriedade, nos afirma que “só a leitura pode libertar o ser humano e, quantas gentes ainda estão presas e precisam ser libertas e não sabem que o caminho é mais fácil do que imaginam...”


Por: Marajoara Ap. de Jesus Leite


 



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